Talvez nunca tanto como hoje se tenha questionado as tendências do mercado de trabalho e as competências que no futuro serão exigidas a quem desempenha funções de gestão. Os desafios são enormes.
Gerir empresas em contexto de incerteza, produzir impactos positivos ao nível da sustentabilidade, capitalizar nas novas tecnologias adaptando e alterando modelos de negócios, liderar e motivar pessoas que valorizam o propósito do negócio, a diversidade de experiência, e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
A evolução destas competências é seguida de forma atenta pelas boas escolas de negócios, que, comprometidas em prepararem gestores que impactem positivamente as suas organizações e a sociedade, redesenham os seus currículos, alinhando-os com as mais recentes tendências.
Foi por isso com alguma estranheza que li as primeiras linhas de um artigo recentemente publicado pelo Financial Times, com o título “CEOs with MBAs good for business”. Começando por mencionar que mais conhecimento e treino pode tornar os lideres mais inovadores e produtivos, referem um estudo, conduzido nos EUA e na Austrália e alertam para os efeitos negativos do excessivo foco no lucro, impulsionado pelos planos curriculares das escolas de negócios.
Ao ler o artigo questionei se estariam mesmo a referir-se às escolas de negócios de hoje. Uns parágrafos abaixo e rapidamente concluí que a maioria dos inquiridos tinham feito o seu MBA antes de 2000. De facto, comparando os MBAs anteriores a 2000 com os atuais, podemos dizer que há uma abismal diferença no conteúdo dos MBAs.
Comparei o International MBA do milénio passado com o atual. Constatei que se manteve toda a base fundamental de conhecimento de um gestor nas áreas de economia, contabilidade, finanças, marketing, gestão de pessoas e logística. Mas, paralelamente introduziram-se inúmeras disciplinas fundamentais à boa performance empresarial, com foco não só nos shareholders mas nos stakeholders em geral, incluindo no próprio gestor.
Nas alterações desde 2000 está um significativo reforço das competências de gestão de equipas, de liderança, e de ética e sustentabilidade. No domínio das competências pessoais surgiram disciplinas como “Coaching for Performance”, focada na melhoria de desempenho a partir de uma pré-avaliação de performance feita por pares, ‘Personal Development’, estimulando o auto-conhecimento e compreensão individual dos drivers da motivação e felicidade, ou mesmo a premiada ´Sailing With CEOs’, centrada no desenvolvimento das equipas e líderes, através da prática de vela em ambiente de competição.
Nas alterações desde 2000, está também o inovador Be-Program, no âmbito dos serviços de Carreira, com ferramentas de Career Design e sessões de coaching personalizado com uma experiente equipa de consultores. Para além dos temas de pessoas, houve um reforço significativo das competências associadas a questões de ética e sustentabilidade, com a introdução da disciplina de ‘Corporate Strategic Sustainability’ lecionada por Richard Burrett, fellow do Cambridge Institute for Sustainable Leadership; e dos temas de ética nos negócios, abordado por Urs Muller, docente premiado da SDA Bocconi. Para além de disciplinas específicas o tema da sustentabilidade passou a constar da maioria das disciplinas do programa.
O mundo é hoje cada vez mais global e conectado, e uma boa compreensão dos stakeholders exige sensibilidade e conhecimento de diferentes contextos. O IMBA também abraçou essa tendência. Criado com uma génese nacional tornou-se, nos últimos 13 anos, cada vez mais internacional, sendo hoje lecionado em Inglês, contando com mais de 50% de alunos oriundos de todo o mundo e 50% de docentes estrangeiros de algumas das mais reputadas universidades (Harvard, IE, Columbia) e empresas (tais como McKinsey ou SAP). No campo do reforço à comunidade empresarial introduziu-se um projeto de consultoria no final do programa, respondendo a desafiantes propostas apresentadas por empresas, cada vez mais centrados em temas de sustentabilidade e práticas de well-being. Reforçou-se também a componente internacional com a Business Innovation Week, realizada nos últimos anos em Berkeley (EUA), e dedicada ao desenho de modelos de negócios com foco nos SDGs (Sustainable Development Goals).
Conseguir uma verdadeira integração de “People”, “Planet”, e “Profit”, exige questionar o status quo, flexibilizar modelos de negócios e investir em inovação. Para suportar todo este processo, houve uma constante renovação de disciplinas, e a introdução de temas como ‘Problem Solving and Decision Making’, ‘Corporate Entrepreneurship and Venturing’, ‘Innovation strategy’, ´Digital Innovation´, ‘Valuing Innovative Companies’, ‘Business Analytics’, entre outras.
Um MBA será sempre um MBA, uma formação alargada em competências de gestão. Mas a gestão está a mudar. Exige-se hoje às empresas um impacto positivo não apenas em resultados, mas nas suas pessoas, no ambiente e na sociedade em geral. É esse o nosso propósito: make (positive) change happen!
Termino de escrever este artigo ao som do incontornável David Bowie:
Ch-ch-ch-ch-changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-changes
Artigo de Renata Blanc, Diretora do International MBA.