Na minha experiência como Fisiologista, trabalhando com profissionais de Alta Performance, da Fórmula 1, astronautas da NASA, atletas olímpicos e, até, militares de forças especiais, um dos temas recorrentes é, sem dúvida, o da performance individual e coletiva.
Nestas profissões, o risco é extremo! Se não forem competentes, o cenário mais provável é o de colocação em risco da vida humana, seja do próprio ou de alguém da sua equipa.
A exigência de habilidades técnicas excecionais e de capacidade notável de trabalhar em equipa sobre pressão extrema, são fundamentais para atingir o sucesso!
Mas o que podemos aprender sobre estes contextos, que nos possa ajudar no dia-a-dia ou dentro das nossas organizações?
Em primeiro lugar, está a percepção de que a performance individual está intrinsecamente ligada ao sucesso da equipa, esta capacidade de colaboração e excelência individual levam a atingir realizações notáveis.
Outros dos fatores em comum, é sem dúvida, a responsabilidade individual, ao serviço de um objetivo coletivo. E quando referimos o trabalho em equipa, é de notar, que o treino regular, a comunicação efectiva e transparente, os feedbacks assertivos, a motivação intrínseca e extrínseca, (individual e coletiva), a flexibilidade e a adaptabilidade constantes, a percepção de cada um dos pontos fortes e das fraquezas, assim como do reconhecimento do mesmo nos colegas, tudo isto, gera a percepção colectiva do valor enquanto equipa e do esforço necessário para a superação.
O resultado final é maior do que a soma das partes individuais, existindo, não apenas, responsabilização individual e colectiva de uma forma extrema e constante, mas também a devida recompensa e reconhecimento global.
Na Fórmula 1, por exemplo, o pináculo do trabalho em equipa reflete-se na ação de um pitstop! Um pitstop revela a cultura de toda a organização, numa ação tão simples e, ao mesmo tempo, tão complexa, que nos leva a olhar para este desporto de uma forma única e inspiradora.
Vinte membros da equipa capazes de trabalhar em conjunto para mudar quatro pneus em menos de dois segundos, representam um mindset incrível de disciplina, agilidade, foco, atitude e teamwork, que podemos transportar para qualquer equipa, em qualquer área de intervenção!
O facto, de um pitstop conseguir, por si só, através deste esforço conjunto, reduzir o risco ao piloto, alterar o plano inicial estabelecido para a corrida (flexibilidade) e adequar o carro às condições existentes em tempo real (adaptabilidade), torna os pit stops fundamentais na estratégia da equipa.
Convém referir, ainda, que a intervenção é decidida através de dados concretos, desde telemetria do carro aos dados da corrida, e com tudo isto, se maximiza a probabilidade de obter sucesso!
E quem nunca ouviu a celebre frase “Houston, we have a problem!”? A famosa frase da terceira missão à lua, Apollo 13, onde uma explosão a bordo da nave, que transportava os Astronautas, remete-nos imediatamente para o esforço de toda a tripulação e do Centro de Controlo de Missão, tudo acompanhado em directo na tv, por todo o planeta, reflete inequivocamente a importância do trabalho em equipa para uma missão espacial.
Ser astronauta é um dos sonhos mais comuns nas crianças, que apaixona o seu imaginário ao explorar o Universo, voando em foguetões que são incríveis tecnologicamente, e onde cada história, remete-nos para os filmes de ficção cientifica, que colados ao ecrã, o céu deixa de ser o limite.
Para se tornar Astronauta, muito cedo terá de decidir que riscos valem a pena aceitar para realizar o sonho. O objectivo é o factor que determina todas as ações, e premissas necessárias para o concretizar. O ego pessoal, fica ao serviço da tarefa e do colectivo. O mesmo acontece com um militar ou até mesmo com um atleta de alta competição.
A dedicação, determinação, foco, resiliência, capacidade de trabalho individual e em equipa, accountability, espírito de sacrifício, adaptabilidade e liderança, são características que todos reconhecemos nestas profissões e que nos inspiram a acreditar que, enquanto humanos, somos capazes de fazer o impossível.
Talvez possamos usar o seu exemplo, para que, no nosso contexto pessoal e profissional possamos crescer e atingir novos patamares de realização.
Artigo de Emiliano Ventura, Human Performance Specialist Physiologist e Director do Bioperformance Center do Motor & Sports Institute.