A ligação entre Design e Sustentabilidade remonta ao início da década de 1970, mas ainda hoje modelos económicos mais sustentáveis como a Economia Circular não são amplamente praticados.
As primeiras considerações ambientais no design vieram do livro Design for the Real World: Human Ecology and Social Change (1985) de Victor Papanek, que criticava a sociedade de consumo e o papel do designer na degradação social e ecológica. As primeiras práticas de design "verde" concentravam-se na redução do impacto ambiental por meio do redesenho das características de produtos individuais, usando a hierarquia de resíduos na redução do uso de materiais.
Mais tarde, foi o livro Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things (2002) de William McDonough e Michael Braungart que contribuiu para o aprofundamento da discussão sobre o papel do design para uma vida mais sustentável. O conceito central do livro - “Cradle to Cradle" (do berço ao berço) - propõe uma abordagem completamente nova para a criação de produtos. Em contraste com o modelo tradicional do "berço ao túmulo", em que os produtos são fabricados, utilizados e descartados como resíduos, McDonough e Braungart defendem a ideia de projetar produtos de forma que os seus materiais possam ser continuamente reutilizados ou reciclados.
A abordagem pioneira do "Cradle to Cradle" enfatiza a importância de eliminar a noção de "resíduo" e repensar todo o sistema de produção, considerando a saúde humana, o impacto ambiental e a eficiência energética.
O livro levanta questões fundamentais sobre a forma como os produtos são concebidos, fabricados e descartados, destacando a necessidade de uma mudança radical nos processos industriais para criar um futuro mais sustentável. De certa forma, McDonough e Braungart anteciparam o atual modelo da Economia Circular popularizado pela Fundação Ellen MacArthur e divulgado pelo “Circular economy systems diagram” (2019), comummente apelidado de Diagrama de Borboleta.
A partir destes novos conceitos no design de produtos e sistemas, a importância do Design Thinking sustentável tem sido cada vez maior, e muitos profissionais e empresas têm procurado integrar essa abordagem nos seus processos de inovação. Aliás, esta crescente popularidade do Design Thinking (DT) na gestão de negócios e na cultura organizacional é uma oportunidade para abordar criativamente áreas problemáticas como a redução de resíduos, o transporte sustentável, sistemas alimentares, energias renováveis, a conservação da água, entre muitos outros, tendo em vista iniciativas de economia circular, um desenvolvimento urbano sustentável e a sustentabilidade social.
Isto porque o Design Thinking para a inovação sustentável vai além de simplesmente reduzir o impacto ambiental de um produto ou serviço; o processo do DT envolve repensar todo o sistema em que o design é inserido, considerando também o impacto social e económico.
Na sua essência, o Design Thinking reside em identificar e compreender as necessidades e aspirações dos utilizadores e stakeholders envolvidos num projeto, combinando empatia, criatividade e análise. Ao aplicar essa abordagem ao contexto da inovação sustentável, podemos criar soluções que promovam não apenas o crescimento económico, mas também o equilíbrio ambiental e social.
Outra das grandes vantagens do Design Thinking é a sua natureza colaborativa. Ao reunir uma equipa multidisciplinar de profissionais com diferentes perspetivas, é possível explorar uma ampla gama de ideias e pontos de vista. Essa diversidade de pensamento é crucial para gerar soluções verdadeiramente novas e sustentáveis, desafiando as convenções estabelecidas e estimulando a criatividade. Além disso, o DT valoriza a prototipagem e iteração contínua.
Em vez de aguardar até que uma solução esteja totalmente desenvolvida para obter feedback, o processo é projetado para criar protótipos rápidos e testá-los com os utilizadores. Isso permite uma validação constante e melhorias incrementais, resultando em soluções mais adequadas às necessidades reais e reduzindo o risco de investimentos desnecessários.
Na perspetiva atual do Design Thinking, em que se faz um shift do Human-Centered Design para a adoção do Planet-Centered Design, de acordo com investigador da Universidade de Zurich, Samuel Huber, quatro mudanças fundamentais que qualquer projeto de inovação terá de encarar:
(1) "Do ser humano para o planeta", dando voz aos stakeholders não humanos, como os oceanos, uma região ou um material.
(2) "Da quantidade para a qualidade", encarando o crescimento não como algo que acontece em quantidade, mas em qualidade.
(3) "Do curto para o longo prazo", considerando que, num mundo em constante e rápida alteração, muitas das externalidades negativas acontecem durante períodos de tempo mais longos (embora os impactos climáticos estejam a desenrolar-se cada vez mais rapidamente.
(4) "Da adequação ao mercado à adequação ao planeta", considerando que a sustentabilidade financeira de uma empresa não pode ser pensada apenas para o próximo semestre e que, em última análise, não haverá produtos e serviços num planeta em perigo.
À medida que enfrentamos desafios globais, como mudanças climáticas, escassez de recursos e desigualdade social, a aplicação desta abordagem criativa e centrada no planeta é fundamental para garantir que as nossas ações estão alinhadas com os princípios de sustentabilidade e respeito pelo meio ambiente, e por todas as formas de vida.
É neste contexto, em que o Design Thinking pode desempenhar um papel fundamental na criação de produtos e serviços que minimizem o impacto ambiental, promovam a economia circular e levem em consideração os aspetos sociais, que a Porto Business School criou o Open Executive Programme de Design Thinking para a Inovação Sustentável onde convida os participantes a abraçar uma nova abordagem estratégica nas organizações.
Artigo de Katja Tschimmel, docente convidada da Porto Business School e codiretora do Open Executive Programme Design Thinking para a Inovação Sustentável.