Todos os dias, somos inundados com informações sobre a conjuntura económica, conflitos geopolíticos, catástrofes naturais e os efeitos das alterações climáticas. Estas situações têm potencial impacto em nós, nas empresas onde trabalhamos e na sociedade. Estarão as empresas conscientes da magnitude desses impactos e preparadas para responder de forma resiliente e estratégica?
Relembremos a pandemia covid-19, foi um período atípico e desafiante para todos, no entanto, seria um cenário inimaginável? Temos bem presente que foi um período que afetou a sociedade de forma transversal e por ser tão global, beneficiámos da solidariedade e de uma empatia generalizada. Contudo, como será se uma situação só afetar um setor, ou especificamente a nossa empresa? Uma perturbação da cadeia de abastecimento, um ciberataque ou uma falha nas operações, teremos o mesmo contexto de compreensão por parte dos clientes e dos stakeholders?
E se a situação de disrupção escalar a um ponto em que os planos de contingência existentes não dão resposta, será que existe um plano de gestão de crise e de comunicação em crise, testado e operacionalizável?
Este é o desafio das equipas que trabalham a continuidade do negócio abraçam incessantemente: preparar as organizações para cenários de disrupção, tipicamente de baixa probabilidade e de elevado impacto. Para isso, trabalham de forma multidisciplinar para responder a algumas questões-chave: Quais são as atividades críticas? De que recursos dependem? Qual a cadeia de abastecimento? Que redundâncias e planos possuem? Quais são as implicações legais de uma perturbação ou das decisões a tomar em contexto de crise?
Sabemos que a definição de estratégias corporativas e as respetivas decisões são naturalmente orientadas por racionais económico-financeiros, cada vez mais alinhadas com princípios ESG, com propósito de criar impacto positivo na sociedade e no planeta, pelo que, ousadia e inovação são ingredientes cada vez mais necessários. Assim, para dar robustez a essa estratégia e reforçar a confiança nos nossos clientes e demais stakeholders, torna-se ainda mais premente que essa estratégia esteja também alicerçada pela continuidade do negócio, pela gestão de crise e consequentemente pela resiliência como pilares para o sucesso, mesmo em contextos desconhecidos e incertos.
Para tal, destacam-se sumariamente 3 possíveis eixos de atuação para reforço do investimento em resiliência organizacional, que devem naturalmente ser ajustados à dimensão do negócio e aplicados de forma progressiva:
Cultura: a criação de programas de formação e sensibilização, adaptadas a diferentes públicos-alvo dentro da organização, são fundamentais para garantir a necessária preparação, proatividade na deteção de potenciais incidentes e na resposta;
Implementação de um sistema de gestão de continuidade do negócio: a organização deve regularmente estabelecer o seu contexto, identificar atividades críticas através de uma análise de impacto, avaliar e gerir os riscos associados a essas atividades em alinhamento com as políticas de risco já existentes, definir estratégias e planos de continuidade, realizar simulacros para testar esses planos e monitorizar os resultados para melhoria contínua;
Abordagem 360: envolver toda a organização e entidades externas, e promover a partilha de informação, o treino conjunto, para assegurar a necessária capacidade de adaptação da organização à mudança e uma eficaz articulação entre todos.
O caminho é desafiante e leva o seu tempo a ser implementado, pelo que, conscientes do serviço essencial que prestamos, no grupo EDP temos vindo a robustecer esta abordagem como alicerce da nossa estratégia para a descarbonização. Assim, deixo aqui a reflexão e o desafio ao tecido empresarial e à sociedade: em que “lado da moeda” se posicionam aquando de uma situação de disrupção, do lado da sobrevivência ou da superação? O investimento em resiliência pode ser um fator de diferenciação no mercado, no impulsionar da ousadia e da inovação, e acima de tudo, pode fazer a diferença para a continuidade das operações e para elevar a confiança dos nossos stakeholders.
Artigo de Sandra Garrido, antiga aluna da Pós-Graduação em Direção de Empresas e Especialista em Continuidade do Negócio e Gestão de Crises no Grupo EDP.