“A diversificação pode proteger a riqueza, mas a concentração produz riqueza.”
Warren Buffett
Ao longo de várias décadas a indústria germânica apostou na concentração de fornecedores e de clientes. Por exemplo, em 2020, a Alemanha importou mais de metade do gás da Rússia e a BMW obteve mais de um quinto das receitas na China. Contudo, a evolução geopolítica recente levou a Alemanha a repensar a sua estratégia. Diversificar é o novo leitmotiv no Governo e nas empresas alemãs.
Países e empresas reduzem a sua exposição ao risco geopolítico utilizando várias estratégias, sendo que estas começam por identificar o que necessita de maior proteção. A mitigação de riscos exige estabelecer prioridades, o que implica identificar quais os ativos mais valiosos e quais os mais vulneráveis.
Depois de estabelecer as prioridades, é possível desenhar as estratégias de mitigação de risco, estando a diversificação entre as estratégias mais usadas. Na linguagem popular, diversificação significa “não colocar todos os ovos no mesmo cesto”. No caso alemão, a diversificação passa por procurar mercados alternativos para exportação, bem como estabelecer contratos com vários fornecedores de forma a mitigar o risco de roturas na cadeia de abastecimento ou cortes no fornecimento de energia.
Para além de reduzir o consumo de gás, o governo alemão tem procurado diversificar a origem das fontes energéticas. Os fornecimentos do Mar no Norte e outros têm suprido as carências de gás russo, e o Chanceler Olaf Scholz assinou já novos contratos para o fornecimento de gás com origem no Golfo Pérsico, desta forma reduzindo a dependência face a produtores individuais.
Relativamente ao comércio com a China, toda a indústria alemã tem seguido a estratégia das grandes multinacionais. Estas procuram novos mercados para os seus produtos, e, simultaneamente, tentam substituir as empresas chinesas nas cadeias de abastecimento, diversificando para países como a Índia, Vietname, Bangladesh ou a Malásia. Esta estratégia visa reduzir a exposição à economia chinesa, como resposta ao aumento das tensões entre a China e o Ocidente, que poderá ter o decoupling das cadeias de abastecimento como resultado.
Todavia, a diversificação será uma tarefa difícil. Por exemplo, o mercado chinês representa aproximadamente 30% da procura global de máquinas e equipamentos e quase 40 % da procura mundial de automóveis, sendo difícil encontrar mercados alternativos. Estabelecer novos mercados aumenta os custos fixos, e tem implicações em termos de rentabilidade e de crescimento económico. Por conseguinte, a indústria alemã terá de completar a estratégia de diversificação com uma gestão criteriosa do timing dos seus investimentos. Por exemplo, a procura de automóveis BMW na China continua a crescer de forma robusta, pelo que é natural que a BMW aproveite os lucros obtidos na China para apostar em novos mercados e tecnologias.
Em síntese, os decisores políticos e empresariais alemães estão cientes das consequências do aumento do risco geopolítico. Um leitmotiv é uma melodia curta e recorrente que nos lembra uma situação, um sentimento, uma personagem. Da mesma forma, no atual contexto geopolítico, quando decidirem efetuar novos investimentos, os alemães irão certamente lembrar-se da necessidade de diversificação e de dispersão dos seus ativos prioritários.
Artigo de José Jorge, J.P. Teixeira Fernandes e Jorge Rodrigues, codiretores do Open Executive Programme Risco Geopolítico e Estratégia para Executivos.