Porquê falar de Accountability? Porque se há altura do ano em que esta competência se torna essencial para as pessoas e para as empresas é no início do ano. Tipicamente, traçam-se resoluções, planos e objetivos e, frequentemente, já se sabe quem chegará ao final do ano com as metas atingidas. Idealmente todos, mas sabemos que nem sempre é assim!
Começo por delimitar de que é que falamos quando nos referimos a Accountability. A palavra é de difícil tradução, pois seria necessária uma frase para a traduzir, e é usada em diversas situações, mas sempre relacionadas com o facto de que alguém (pessoa, organização ou governo) deve prestar contas a outros: sociedade, clientes, colaboradores, família e acionistas.
Frequentemente, surge como tradução a palavra “responsabilidade”, mas vale a pena referir que são conceitos diferentes. Enquanto a responsabilidade é extrínseca, ou seja, pode ser atribuída, a accountability é intrínseca e vem gravada nas características da pessoa, fazendo parte da sua marca distintiva. A accountability é um nível superior de responsabilidade que leva a pessoa a querer, proativamente, prestar contas sobre os resultados atingidos e, mais do que isso, a assegurar as condições necessárias para os atingir.
De uma forma simples, podemos afirmar que a accountability é uma competência pessoal que consiste na capacidade de o indivíduo tomar a responsabilidade pelas suas ações e gerar respostas com resultados positivos (Cordeiro, 2013).
Partindo desta definição, facilmente afirmamos que precisamos de pessoas e profissionais com elevados níveis de accountability.
Insisto sempre no papel das lideranças em relação à accountability, por saber que é crítico para as empresas pelo efeito multiplicador que têm, (ou que deveriam ter) e por considerar que o papel das lideranças passa por criar condições para que os quadros das empresas sejam “accountables”.
Um estudo da Gallup revela que 91% dos colaboradores afirmam que accountability é uma das principais competências que precisam de ser desenvolvidas nas lideranças da empresa (Carucci, 2020, in HBR). Sabemos que é difícil encontrar bons modelos de accountability. Paralelamente, existem pessoas que a vivenciam de forma natural e harmoniosa, sem se darem conta que essa competência tem um nome.
A questão que podemos colocar é: como contribuir para elevados níveis de accountability? Deixo 5 dicas simples:
» Definir claramente os objetivos – este é o primeiro passo. Os objetivos devem ser claros para os colaboradores e devem estar ligados ao propósito da organização e da equipa. Deve haver a preocupação em definir objetivos mensuráveis que sejam corretamente entendidos por aqueles que para eles contribuem.
» Partilhar os objetivos publicamente – a investigação diz-nos que ao definir um objetivo pessoal, a probabilidade de concretização é de 10% a 25% e que ao partilhá-lo com alguém relevante esse número sobe para 65%. A partilha enfatiza o compromisso e a necessidade de prestar contas.
» Identificar um peer coach – sempre que possível, identificar alguém na organização que possa partilhar ferramentas facilitadoras da concretização do objetivo.
» Dar feedback frequente – aguardar momentos formais de feedback é um erro comum. Estes ocorrem, na melhor das hipóteses, 3 ou 4 vezes por ano. Fomentar elevados níveis de accountability passa por cultivar uma cultura de transparência, em que o feedback é continuo e promotor da aprendizagem e do crescimento dos colaboradores.
» Foco na justiça – quando o sistema de accountability é visto como justo, as pessoas são mais honestas relativamente aos erros que cometeram, agindo de forma justa em relação aos outros e servindo o propósito da organização. Priorizar a justiça permite estabelecer a conexão entre o contributo e a pessoa.
Uma empresa que valoriza a Accountability tem uma vantagem competitiva face aos seus concorrentes por ter pessoas que, para além de estarem focadas em atingir os objetivos, também criam condições para que os objetivos sejam alcançados com maior agilidade e sustentabilidade.
Artigo de Catarina Quintela, Diretora da área de Corporate Solutions da Porto Business School.