“A gestão do risco não é somente uma vantagem competitiva, mas uma necessidade para competir”
António Cândido, Chief Risk Officer da Efacec e coordenador da Pós-Graduação em Gestão de Projetos da Porto Business School afirma que o risco, seja em contexto de guerra ou terrorismo, tem impacto na gestão das empresas e implementação das suas estratégias.
Os cenários de guerra e os riscos que daí advêm sempre foram motivo de preocupação em empresas que desenvolvem ou pretendem desenvolver projetos em países ou regiões instáveis. Mais recentemente, fruto da globalização e do número crescente de atos de terrorismo, essa preocupação tem aumentado. O atentado de Londres e a tentativa falhada de Bruxelas a semana passada são apenas dois dos casos mais recentes e mediáticos.
Tentar perceber como as empresas se posicionam – ou deveriam posicionar – em contextos de risco e qual o impacto que têm na definição de estratégias e nos negócios das empresas foi o que a News PBS procurou saber junto de António Cândido, Chief Risk Officer da Efacec.
Quando questionado sobre se a análise de risco, no processo de tomada de decisão, é já uma realidade no mundo empresarial em Portugal, António Cândido refere que “se sente claramente um interesse crescente na relevância e enfoque na gestão de risco nas empresas portuguesas. Contudo, a abordagem mais sistemática da gestão de risco no suporte à decisão que dê uma vantagem competitiva é, a meu ver, feito somente nas grandes empresas”. De acordo com o especialista em gestão de risco esta preocupação “é maior em empresas que operam no norte da Europa e USA. Nesses países os clientes são muito mais sensíveis à capacidade de execução e previsibilidade dos resultados das empresas a que elas adjudicam as obras. Assim a gestão do risco não é somente uma vantagem competitiva, mas uma necessidade para competir”.
O risco é mensurável?
O risco associado a instabilidade política ou violência política é mensurável e existem indicadores de empresas especializadas em análise de risco político e risco de segurança nos vários países. Estes indicadores estão associados a uma série de segmentos tais como risco de violência civil, risco de atentados, risco de rapto,...baseado em análise de eventos, estudos económicos e sociais. Embora cada empresa que presta estes serviços utilize uma escala diferente, geralmente estes riscos estão classificados desde risco residual a risco extremo. Contudo, como em grande parte dos riscos existe uma certa subjetividade relacionada com a perceção dos eventos associados aos riscos identificados. Estas bases de dados são dinâmicas (assim como os níveis de risco) e é necessário que a gestão do risco seja dinâmica com tempos de resposta cada vez mais curtos”, esclarece António Cândido.
Outro aspeto que António Cândido salienta é o da prevenção porque “é sempre a melhor maneira de nos prevenirmos contra os riscos que enfrentamos. A formação sobre modos comportamentais, cultura dos países onde operamos, informação sobre eventos e situação política e social nesses países é importantíssima para uma ação preventiva. Existem serviços de alertas sobre segurança a expatriados assim como serviços de suporte à segurança de pessoas que, para além de darem conforto às pessoas, pode ser crítico em situações difíceis. Contudo estes serviços têm um preço. Ter planos de contingência, ações de mitigação e de evacuação definidos é importante”.
Se a prevenção é algo que as empresas podem gerir já a previsão e o desenvolvimento de sistemas preditivos é mais complexo não está ao alcance de todos os países. “O ecossistema está cada vez mais complexo, com mais parâmetros que influenciam o enquadramento de negócios e a velocidade de alteração destes paramentos é cada vez maior. A digitalização da informação associada à transformação digital permite angariar vastos volumes de informação, que países como os USA utilizam para identificação e prevenção de ataques terroristas. Machine Learning com inteligência artificial pode permitir o desenvolvimento de sistemas que, com base em tendências e eventos, tenha a capacidade de identificar de forma preditiva futuros eventos com graus de probabilidade razoáveis. Contudo, acho que pelo menos num futuro próximo estes sistemas serão acessíveis somente por grandes países com grandes recursos, devido às quantidades enormes de informação necessária e de capacidade de processamento necessário para se ter a informação a tempo útil”, conclui António Cândido.
A terminar salienta que, “hoje em dia, os unknown-unknowns variam fortemente de país para país, e algumas das empresas especializadas já dão informação muito detalhada que nos ajuda a definir uma estratégia de mitigação dos riscos mais solida. No entanto, mesmo com sistemas muito evoluídos existirá sempre um fator do imprevisto associado ao risco. Nunca estaremos protegidos a 100%”.