No setor em Portugal é líder em todo o mundo e cujo volume de exportações pode atingir mil milhões de euros, em 2017, João Rui Ferreira, alumnus da Porto Business School ao comando da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR) afirma que a estratégia de crescimento passa por criar valor e melhorar a produção e a qualidade da cortiça.
É o único setor no qual Portugal é líder, a nível mundial, com um impacto significativo na economia – o setor da cortiça vale cerca de 937 milhões de euros em exportações e estima-se que este ano chegue aos mil milhões de euros. Com exportação para 133 países, em 2016, a cortiça contribui com 7,5% para o aumento das exportações portuguesas, envolvendo 600 empresas e mais de oito mil trabalhadores.
O mercado dos vinhos é um dos mais fortes onde o produto português está presente, com uma quota de mercado de 70%, e teve, recentemente um impacto positivo no mercado chinês, pela diferenciação da qualidade do produto. Dos 100 vinhos mais vendidos na China, 95 usam rolha de cortiça, sendo que oito dos nove vinhos austalianos que ocupam o top 100, na China, passaram a usar cortiça (note-se que a Austrália era considerada a meca das cápsulas de alumínio e dos vedantes sintéticos), refere João Rui Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR), exemplificando outros mercados mundiais como os EUA, Brasil, França, Alemanha ou Reino Unido, onde uma garrafa de vinho com rolha de cortiça pode ter um preço por garrafa cinco euros mais elevado do que um vinho em garrafa com um vedante alternativo.
“No mundo do vinho, a cortiça ainda tem um caminho para percorrer. De facto, é o nosso principal mercado. Acredito que podemos crescer mais em valor do que em volume, nesse segmento. Mas há hoje um enorme número de outras aplicações de cortiça que não rolhas, e que podem trazer muito valor para o nosso setor”, acrescenta João Rui Ferreira.
É certo que as rolhas de cortiça representam mais de 70% das vendas, mas esta não é a única aplicabilidade. A cortiça está hoje em praticamente todo o lado: no design, na joalharia, no calçado, na arquitetura, no vestuário, na indústria aeroespacial. “Isto é um sinal que temos de olhar para as geografias não só como destino das nossas exportações, mas como destino das exportações dos nossos clientes. Temos feito isso na China, no Brasil, na Escandinávia, em mercados onde a expressão da exportação da cortiça ainda não é muito relevante. Isto dá-nos uma responsabilidade ainda maior, porque por de trás de cada vitória vem um novo desafio e isto tem sido uma constante”, sustenta.
Muitas vezes designado como um produto sexy e que está na moda, a cortiça está para ficar e para dar cartas em todo o mundo. O presidente da APCOR, associação presente no mercado há 60 anos e representante de 270 empresas do setor, sublinha que a estratégia passa por uma maior aposta em criar condições em Portugal para aumentar a qualidade e a produção de cortiça – a área de montado é de 736 mil hectares, no entanto, a densidade por hectare ainda é muito baixa e pode ser aumentada com a mesma área de montado, defende João Rui, mas isso exige um esforço coletivo das entidades e dos produtores.
“A cortiça combina, de facto, essa questão única que é uma fileira que gera crescimento económico, mas que também gera emprego de qualidade, uma série de serviços ambientais, públicos, inigualável do ponto de vista de outras fileiras, e isso vai gerar melhores condições de vida para todos, em geral, porque o planeta é uma espécie de condomínio onde todos vivemos e onde todos, um dia, vamos pagar a fatura do erro que alguém comete, seja em Portugal, seja em qualquer parte do mundo”, sustenta o responsável da APCOR.
Cortiça na rota da economia circular
Num setor que já é, por si só, sustentável, a grande aposta nesta fileira é na reciclagem, na recolha e transformação da cortiça, dando resposta às exigências do mercado e dos consumidores. “A cortiça teve a sorte ou pelo menos é uma herança, de ser um paradigma da economia circular. O sobreiro é uma árvore que se regenera, que se renova em cada nove anos, é uma árvore que não é necessário cortar, é uma árvore que, inclusive, pode crescer na mesma zona, gerando mais cortiça. Tudo é utilizado, tudo pode ser reciclado. Dentro deste modelo de economia circular, a grande aposta da nossa fileira passa pela reciclagem. Não é difícil reciclar cortiça, difícil é recolher a cortiça que anda pelo mundo e poder transformá-la, sobretudo em Portugal, porque é onde está grande parte da nossa produção”, continua João Rui Ferreira.
O atual presidente da APCOR congratula-se com a adaptação das escolas de negócio a temas atuais como o da a economia circular. "Temas que não eram ainda falados, há 15 anos", refere João Rui Ferreira, recordando que passou pela Porto Business School em 2004, para fazer o Mestrado em Métodos Quantitativos Aplicados à Gestão. Na altura, o engenheiro químico de formação deixou a investigação e o dia a dia nos laboratórios para dedicar-se à área da gestão e das finanças. Uma mudança de rumo profissional para a qual a passagem pela Porto Business School contribui, em muito. “Foi o melhor ano da minha vida enquanto estudante, onde aprendi muito, onde criei relações, profissionais e sobretudo pessoais para a vida, quer com professores quer com antigos alunos, e que me permitiu fazer uma mudança de carreira”, recorda.
A formação trouxe-lhe uma visão mais global do negócio, para lá do setor da cortiça, que já dominava. “Não me especializei, pelo contrário, tornei-me mais abrangente,com os riscos que isso também tem, no mundo de hoje. O meu background de engenharia permite-me continuar a perceber a linguagem dos técnicos, mas a escola permitiu-me olhar para os problemas de uma forma diferente. Permitiu-me saber afastar-me daquilo que é o detalhe e olhar para o global e, a partir daí, traçar estratégias. Foi isso que mudou (...) e foi aqui [na Porto Business School) que eu bebi muito desse conhecimento, e que me permitiu hoje ter esta visão do setor da cortiça e ter trabalhado com muitos empresários”, conta o antigo aluno.
Ao comando da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR) desde 2012, João Rui Ferreira afirma que a estratégia que a APCOR está a seguir é, em certa medida, alinhada com o modelo da Porto Business School - apostar numa lógica de proximidade e articulação do mundo académico com as empresas. “Há aqui [na Porto Business School] muito ADN empreendedor, deste espírito do empresário do Norte, de "fazer", muito tátil, muito tangível. Este é um fator que se exige muito no setor empresarial do Norte, de fazer as coisas acontecer. E esta Escola integrava isso muito bem, com pessoas de diferentes áreas. Foi uma experiencia muito importante para mim e que eu guardo com muito carinho”, conclui.