O denominado problema da ação coletiva tem sido objeto de estudo aprofundado. De um modo simples pode ser descrito da seguinte forma: quando a produção de um benefício coletivo exige um esforço e um custo individual, há sempre a tendência para os membros do grupo não cooperarem, colocando os seus interesses individuais acima dos interesses coletivos.
Qualquer um de nós já enfrentou este tipo de situações quando, por exemplo, num condomínio um ou mais proprietários se atrasam ou recusam pagar as prestações. Para lidar com este género de comportamentos há duas abordagens possíveis: utilizar incentivos, que podem ser positivos ou negativos, e/ou fazer com que os membros do grupo reconheçam que, a prazo, o prejuízo coletivo será superior ao custo individual de cooperar.
Um caso extremo onde este tipo de dilema pode ocorrer é em grupos de apenas dois elementos. Aqui, a teoria dos jogos - consubstanciada, designadamente, no chamado "dilema do prisioneiro" - evidencia de forma clara que se uma das partes tiver um comportamento oportunista, a outra reagirá exatamente da mesma forma, o que fará com que ambas fiquem pior caso decidam não colaborar.
Foi esta a lógica que evitou o conflito nuclear durante o período da guerra fria entre os EUA e a União Soviética. A questão era simples: qualquer uma das partes sabia que se carregasse no botão que fazia disparar as ogivas nucleares, a outra reagiria exatamente da mesma forma, o que levaria a uma aniquilação mútua - ou seja, ambas estavam cientes de que era claramente preferível não seguir por esse caminho.
O desafio climático que enfrentamos encerra também um problema de ação coletiva... mas muito mais complexo. Desde logo porque o grupo não é constituído por um número reduzido de elementos, como no caso da guerra fria ou da generalidade dos condomínios. Estamos basicamente a falar de cerca de 200 países, com níveis de desenvolvimento diferentes, opiniões públicas distintas, interesses geoestratégicos díspares e agendas políticas próprias, muitas vezes dependentes de objetivos eleitorais de curto prazo.
A tudo isto acresce a distância temporal. Construir hoje mais umas dezenas de centrais a carvão não quer dizer que amanhã (isto é, no curto prazo) o nível do mar vá subir de forma dramática. O que significa que, como o efeito é sempre a médio ou mesmo longo prazo, a tendência para não cooperar é enorme.
Carlos Brito, docente convidado da Porto Business School e codiretor da Pós-Graduação em Maketing Management.
Artigo originalmente publicado no Dinheiro Vivo a 06.11.2021