As moedas virtuais vieram alterar a forma como transacionamos dinheiro e, consequentemente, o papel dos bancos, que passam a ter novos players como a Amazon ou a Apple. Como é que a banca está a reinventar-se para dar resposta a estes novos desafios? Que novos modelos de negócio vão surgir?
As tecnologias como o “blockchain” e “fintech” estão a mudar a forma como lidamos com o dinheiro e todo o modelo de funcionamento da banca. Porquê? Porque o papel da banca como intermediário e responsável pela emissão de moeda deixa de ser necessário a partir do momento em que os consumidores, empresas e instituições podem fazer, de forma rápida e simples, transações e pagamentos usando moedas virtuais, as designadas criptomoedas.
A maior disrupção está a acontecer com o “blockchain” que tem a “bitcoin”, uma das criptomoedas mais famosas, como a sua aplicação mais conhecida. Deixarmos de pagar tudo com dinheiro para usar apenas moedas virtuais parece coisa do futuro, mas é uma realidade cada vez mais presente.
Um pouco por todo o mundo estão a surgir sistemas que usam criptomoedas. Veja-se, por exemplo, a Estónia, pioneira nesta transformação digital. Ou a Suécia que criou a “e-krona”, uma réplica da bitcoin, com uma oferta limitada, regulamentada pelo banco central e de acesso livre, o que muda totalmente o papel do banco central.
“Os bancos já estão a seguir esse caminho, que passa por abdicar dos balcões físicos. Já estamos a assistir a estas transformações. É claro que há alguns bancos que estão a mudar mais rapidamente do que outros, sobretudo os bancos na Ásia, mais céleres do que os bancos europeus. A curto prazo, eu diria que, em cinco anos, o setor da banca vai mudar completamente”. A análise é de Arturo Bris, diretor do IMD World Competitiveness Center, que esteve na Porto Business School numa masterclasse sobre os desafios que a era digital está a criar na indústria financeira, num evento exclusivo para Alumni Porto Business School e IMD.
O setor da banca está a reinventar-se e a articular esforços, veja-se por exemplo o consórcio R3 CEV, o maior consórcio de instituições financeiras globais, que estão a testar novas soluções para o sistema financeiro com recurso a tecnologias como o blockchain.
Um pouco por todo o mundo esta mudança de paradigma está a acontecer e o setor bancário vai ter de lidar com diferentes players que até agora não entravam neste setor. São empresas como a Apple ou Amazon que vão ser os principais concorrentes da banca, como analisa o professor de Finanças do IMD. “Qualquer empresa com poder como a Amazon, Apple ou Alibaba poderá transformar-se num banco. Por exemplo, eu posso usar o Apple Pay para fazer pagamentos, mas em pouco tempo vamos ter mais ferramentas da Apple para fazer transações porque a Apple tem capital para o fazer e pode gerir o risco da mesma forma que os bancos fazem. Acredito que a Apple vai ser mais resiliente do que qualquer banco, por isso, prefiro ter o meu dinheiro depositado na Apple do que na banca”, compara Arturo Bris.
O uso de criptomoedas como sistema de transação para substituir o modelo tradicional coloca ainda muitas reservas e desconfiança nos mercados, sobretudo pelas questões da regulamentação e a aceitação entre os diferentes países. "Estes serão os grandes desafios para os próximos anos, no setor bancário", afirma Arturo Bris.
Esta disrupção provocada pela era digital e pela introdução das novas tecnologias como o “blockchain” e “fintech” trazem novos modelos de negócio. A marca de relógios suíça Bvlgari, por exemplo, inovou ao lançar no mercado um relógio que permite aceder à conta bancária e fazer os movimentos necessários. “Estamos a falar da internet das coisas, quando usamos a tenologia para conhecer em detalhe o comportamento dos consumidores, em vez de vendermos apenas um produto. É como ter um alfaiate e desenhar a nossa roupa, um alfaiate à medida dos consumidores”, sustenta o diretor do IMD World Competitiveness Center.
A concluir, Arturo Bris sublinha o papel crucial das escolas de negócio para dar resposta às novas exigências do mercado. “As escolas têm de estar na linha da frente das novas tecnologias, prever aquilo que vai ser uma inovação massiva, educar para o uso destas ferramentas e técnicas. Têm de ser corajosas para substituir os modelos obsoletos de ensino por estas novas tecnologias”.