Nenhuma economia mundial passou ao lado da pandemia que 2020 nos trouxe. No entanto, o World Economic Forum conseguiu identificar características comuns que fizeram com que alguns países lidassem melhor com o impacto da pandemia. As conclusões que a seguir apresentamos são do “Global Competitiveness Report Special Edition 2020: How Countries are Performing on the Road to Recovery”, que pode ser consultado aqui.
O relatório identifica algumas características comuns que ajudaram os países a gerir melhor o impacto da pandemia nas suas economias e nas populações. Com base na avaliação dos líderes empresariais - através de pesquisa de opinião executiva - as seguintes dimensões emergiram como particularmente importantes na resiliência a esta crise de saúde e às suas consequências imediatas:
1 - Digitalização económica e digital skills
O distanciamento social tem sido a resposta mais imediata ao COVID-19. Desta forma, os países que conseguiram continuar a gerir segmentos significativos da sua economia remotamente estavam em melhor posição para passar pela pandemia do que aqueles que não conseguiam. Por exemplo, países que poderiam alavancar acordos de trabalho flexíveis (os 5 principais incluem Holanda, Nova Zelândia, Suíça, Estónia e Estados Unidos) e aqueles onde as digital skills são mais difundidas (os 5 principais incluem Finlândia, Suécia, Estónia, Islândia e Holanda) poderiam ajustar-se parcialmente aumentando a digitalização de sua atividade económica.
Apesar das disparidades importantes entre os setores que poderiam ser digitalizados e aqueles que não podiam, as economias que podiam contar com a tecnologia e o fornecimento de serviços digitais online foram relativamente menos afetadas e também puderam usar a tecnologia para monitorizar a evolução da infeção.
No que diz respeito ao nosso país, Portugal voltou a cair no ranking da Competitividade Digital do IMD World Competitiveness Center, estudo que conta com a parceria da Porto Business School. A economia nacional desceu três posições no quadro geral, passando do 34.º para o 37.º lugar, num total de 63 países analisados. O resultado mostra que o país “não conseguiu acompanhar o ritmo de competitividade digital de outros países” durante este ano.
2 - Redes de segurança e solidez financeira
Uma vez que vários segmentos da economia tiveram que lidar com bloqueios totais ou redução da atividade comercial, os países que já tinham fortes redes de segurança para apoiar aqueles que não puderam trabalhar durante a pandemia, estavam em melhor posição para salvar os seus meios de subsistência. Dinamarca, Finlândia, Noruega, Áustria, Luxemburgo e Suíça, por exemplo, puderam contar com mecanismos bem estabelecidos para apoiar as famílias durante a crise de saúde. Da mesma forma, os países que podem apoiar as empresas com subsídios diretos ou crédito puderam prevenir falências excessivas e perdas de empregos.
Notadamente, economias com sistemas financeiros sólidos (Taiwan [China], Finlândia, Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e Singapura) poderiam encontrar mais facilmente recursos para fornecer crédito às PMEs, o que contribuiu para manter as empresas à tona no contexto atual.
3 - Governança e planeamento
Gerir a crise COVID-19 tem sido extremamente desafiador para todos os governos. Equilibrar as políticas de saúde pública com as políticas económicas e sociais requer a adoção de soluções de segunda qualidade, difíceis de avaliar. Em termos gerais, os países que conseguem planear e coordenar melhor as medidas de saúde com as políticas fiscais e sociais têm sido relativamente mais bem-sucedidos na mitigação dos efeitos da crise.
A estabilidade política (a capacidade do governo de fornecer uma estrutura de política estável) pode ser usada como um substituto para a capacidade do governo de planear e coordenar. Nesse aspecto, os países com desempenho relativamente bom incluem Singapura, Suíça, Luxemburgo, Áustria e Emirados Árabes Unidos.
4 - Sistema de saúde e capacidade de investigação
Um sistema de saúde não é apenas definido pela capacidade do seu setor de saúde (hospitais, médicos, camas), mas também pela acessibilidade desses serviços por uma grande fração da população, pelos protocolos em vigor para gerir questões de saúde pública e pela capacidade de desenvolver e implementar uma resposta tecnológica (vacina). Embora não esteja disponível uma medida abrangente da capacidade de saúde, os dados da Pesquisa de Opinião Executiva mostram que as economias que permitem um acesso relativamente amplo à saúde incluem Japão, Espanha, Taiwan [China], Malta e Holanda.
Nem todos estes países poderiam prevenir uma grande difusão do vírus; no entanto, o amplo acesso à saúde poderia oferecer amplo suporte médico. Além disso, a evidência mostra que as economias que experimentaram epidemias de Coronavírus anteriores (por exemplo, SARS), tinham melhores protocolos e sistemas tecnológicos em vigor (por exemplo, Coréia, Singapura, Taiwan [China]), e poderiam conter a epidemia relativamente mais do que outras, e navegaram na crise relativamente bem.
Como esta crise demonstrou, o desenvolvimento e a capacidade de implantação de vacinas também é essencial. Assim, países com maior capacidade de biotecnologia e colaborações nacionais e internacionais estabelecidas entre universidades e empresas (Suíça, Estados Unidos, Finlândia, Israel, Holanda) têm sido capazes de desenvolver soluções para a crise atual e estão em melhor posição para lidar com futuras pandemias.
Ao longo de todo o estudo, é possível perceber que Portugal vai estando a meio da tabela mundial nas principais questões analisadas. Mas é importante lembrar que, no ranking da Competitividade Digital do IMD World Competitiveness Center, o pior cenário diz respeito à “Preparação para o Futuro”, onde Portugal desceu sete posições, passando do 34.º para o 41.º lugar. Existe, sobretudo, falta de agilidade no negócio, mas também uma insuficiente deteção de oportunidades, um grande receio do fracasso e o fraco uso de big data & analytics. Estes são 4 fatores que merecem reflexão profunda, com especial destaque para a transformação digital, factor que o estudo aponta como primeira dimensão de resposta à crise.